segunda-feira, 26 de novembro de 2007

APENAS GENTE!


A minha alma tornou-se monja,
E, encerrou-se no convento do meu coração.
E me perguntei: por que vivo?
Por que sofro por um todo tão desesperadamente?
Uma voz chamou distante,
Num suave e puro encantamento...
Vives e sofres, somente porque és “gente”.
Em meio ao tédio que meu íntimo invadia,
Sem esperança nem amor, a mesma voz me dizia,
Sempre, como a um fiel confidente:
Lutes, defenda-te, porque és “gente”.
Então passei a me sentir poderoso;
Caminhei então pelo mundo indiferente,
Para mim nada era mais valioso,
Que meu altivo poder de “gente”.
Esqueci as antigas juras de amor;
Vesti de vaidade o meu coração,
E, segui meus passos lentamente,
Por entre as personagens da multidão,
Onde nós todos éramos “gente”.
Eu era um espelho...
Eu era igual a todos eles,
Ora, triste e aflito,
Ora, alegre e displicente.
Igual, pior, ou melhor, que qualquer um deles,
Mas, eu também era “gente”.
Muitas vezes eu amei,
Tantas mais eu fui amado;
Quantas vezes eu errei,
Quantas vezes fui julgado.
Mas eu vivia, vivia com todas as forças do meu ser...
Tive momentos de loucura,
De ternura e até de carinho,
Tive também a fama de viver erradamente,
Porém, nada, nada me importava,
Se certo ou errado eu estava, intimamente eu me contentava e a mim mesmo falava:
Sou “gente”!
Ah! Tive bons sentimentos,
E até grandes e sérios rancores,
Muitas vezes com cinismo e fingimento,
Aceitei imundos e falsos amores...
Para mim, tudo era tão comum,
E da árvore que um dia nas mãos de Deus foi semente,
Eu era apenas mais um fruto,
Que deram o nome de “gente”.
Cheguei ao fim da minha estrada...
Nada fiz, nada construí.
De tudo nada mais me restava,
E, tudo que armei, destruí.
Havia apenas uma alma arrasada e um corpo muito doente.
Deus! Eu nunca poderia supor,
Que da vida que passou,
E que agora é tão diferente,
Houvesse uma palavra final,
Para aqueles que são “gente”.
Agora, no meu julgamento íntimo,
A minha alma compreendeu, desalentada,
Que realmente o muito que tive,
Foi apenas um pouco do nada,
Que a morte me trará pela frente.
Como fui vulgar e descrente!
Neste mundo em que só pensei e desejei,
Ser apenas “gente”.

Mariluci Carvalho de Souza

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